O Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (NEAMP), da PUC-SP, foi criado em 1997, visando atender os interesses acadêmicos por estudos e pesquisas, a partir de uma perspectiva política, nas áreas da arte e da mídia. Naquela década, dois grandes fenômenos já se encontravam definidos e interferindo fortemente não apenas na vida cotidiana, mas também na esfera da prática política e do pensamento teórico da Ciência Política.
Assim, a origem do NEAMP está relacionada a um primeiro fenômeno, qual seja: a crescente estetização da política e também da economia. Com a experiência dos regimes totalitários na Europa, a partir da década de vinte do século passado, descobriu-se o potencial da estética para fazer avançar o processo político em direção às transformações sociais e econômicas perseguidas por regimes como o fascismo, o nazismo e o comunismo. Nesse sentido, a arte e seus desdobramentos recuperam na sociedade de massa o seu potencial transformador já indicado pelos gregos clássicos. Por sua vez, nos anos 1960, verifica-se o deslocamento do poder estético do Estado para as mobilizações da sociedade, como, por exemplo, o movimento situacionista que influenciou as mobilizações de maio de 1968. Desta forma, a arte passa a ser requisitada ou instrumentalizada tanto pelos poderes institucionais e regimes políticos quanto pelas mobilizações e levantes que desejam a radical transformação social. Desse modo, a política deixa explícito que está permanentemente em busca de uma estética.
O segundo fenômeno que influenciou a criação do NEAMP diz respeito aos impactos dos saltos tecnológicos sobre a prática política. De várias maneiras, esses dois acontecimentos se aproximam e, juntos, imprimem novas feições e novas dinâmicas ao fazer político. Em comum, a discussão acerca da viabilidade da democracia numa sociedade de massa, que remete ao debate das possibilidades e dos limites da política numa situação da indústria cultural e das revoluções tecnológicas. Colocam-se novos desafios na contemporaneidade para o estudo das relações e das dependências da política e dos políticos frente às tecnologias. Nesse sentido, o NEAMP foi criado também para refletir e pesquisar sobre o significado e o papel da imprensa escrita, do audiovisual, do rádio, do cinema e da Internet na esfera da política. Cabe destacar que a alta potência das revoluções tecnológicas afetando a política leva o Núcleo a realizar inúmeros estudos e pesquisas sobre as redes sociais e as novas mobilizações de rua no Brasil e no exterior.
Os dois movimentos históricos que vinculam arte, mídia e política são fundamentais para a definição das linhas de pesquisa do NEAMP, que podem ser resumidas em: Estado e sistemas sociopolíticos; comportamento político; lideranças políticas; potencial explicativo e expressivo das linguagens e suportes artísticos; e o impacto das novas revoluções tecnológicas na política. O Núcleo pesquisa literatura, teatro, artes plásticas, tanto como realidade em si mesma quanto no conjunto das relações sociais. Também entra na área de interesse de pesquisa o poder da estética e o funcionamento das campanhas políticas, do marketing e do comportamento político.
É indiscutível que as Novas Tecnologias de Informação (NTI), a partir do final do século XX, imprimem novas movimentações e afetam estruturalmente a política, colocando a velocidade, o acirramento das disputas e o inesperado nos caminhos da política. Os pesquisadores do núcleo buscam ampliar o potencial da análise política, esgarçando as fronteiras entre as diferentes áreas de conhecimento, mas sempre se norteando pelo eixo do saber político. Uma perspectiva multidisciplinar é assumida para a formação de pesquisadores e para conquistar novas abordagens que contribuam para o avanço da área da Ciência Política.
Nessa situação ampla da origem do NEAMP, coloca-se a criação da revista Aurora, canal que sintetiza as preocupações e os objetivos do núcleo. A revista é expressão da importância do entrecruzamento entre arte, mídia e política, numa época de difusão de conhecimento a partir de múltiplos focos de produção do saber; dos confrontos de opiniões; e em contexto no qual a pesquisa acadêmica disputa espaço com outras formas de conhecimento.
A heterogeneidade da realidade circundante se manifesta na composição dos pesquisadores do NEAMP. Somos cerca de 40 pesquisadores, de diferentes instituições brasileiras e do exterior, realizando pesquisas acadêmicas dos mais variados portes e exercendo a atividade da pesquisa com seriedade e liberdade.
Site do Projeto Temático Lideranças Políticas no Brasil: Características e Questões Institucionais
O objetivo geral do projeto Lideranças políticas: características e questões institucionais é aprofundar o estudo sobre o tema das lideranças políticas no Brasil, recuperando historicamente o surgimento dessas lideranças, problematizando o seu significado e buscando compreender o sentido histórico e as características pessoais e contextuais dos líderes brasileiros. Entre os objetivos secundários está a avaliação do desenvolvimento das mídias e a constituição da imagem das lideranças políticas, bem como elucidar a forma como atores políticos empregaram os meios de comunicação para afirmar a sua condição de líderes e suas ações políticas.
Para alcançar os objetivos propostos, ao longo dos quatro anos de projeto temático, trabalhou-se com: 1) os debates teóricos que envolvem o tema; 2) a construção de um banco de dados, abrangente, com lideranças políticas históricas e atuais; 3) a coleta de informações sobre a trajetória das lideranças e a percepção destas sobre o significado do termo e a construção da política brasileira contemporânea; 4;) o agendamento e realização de entrevistas com lideranças e agentes políticos de atuação extra-parlamentar (coletivos e movimentos sociais); 5) a produção de trabalhos que envolvem teoria e empiria acerca do significado da liderança política, sua atuação e representação nas distintas mídias.
É importante destacar que, desde a antiguidade, a figura do líder impactou as atividades do poder e mobilizou pensadores acerca da questão. Sendo um dos fenômenos “mais estudados e menos entendidos” (Burns apud Rejai e Phillips, 1997), as Ciências Sociais ainda não dispõem de uma concepção ou definição de liderança que seja universalmente aceita (Jiménez, 2008), permitindo a inferência de que o fenômeno tem componentes locais e temporalmente contextuais.
Pesquisadores e pesquisadoras do projeto vêm trabalhando com as ideias sobre liderança política que foram apresentadas historicamente e que podem ser distinguidas a partir de três enfoques principais (Rejai e Phillips, 1997 apud Jiménez Díaz; Priori, 2009): 1) aquele elaborado pelos pensadores clássicos, que se detinham no estudo da vida de “grandes homens”, colaborando para que as biografias sofressem da ilusio do “ídolo individual” e se tornassem um método bastante questionado posteriormente (Priori, 2009); 2) o enfoque que coloca ênfase nas estruturas e contextos sociais, sendo os líderes apenas peças na engrenagem do sistema capitalista. Componente desse grupo, Karl Marx tem uma significativa frase, presente no início da obra 18 Brumário, exemplificando o que foi descrito: “os homens fazem a sua história, mas não a fazem como querem”. (Marx, 2011). 3) A última percepção vem dos pesquisadores que trabalham com o que Jiménez (2008) denomina de “enfoque integrador da liderança”, que busca abranger as condições históricas e sociais, assim como a trajetória de cada líder.
Para melhor desenvolvimento das atividades de pesquisa e aprofundamento das análises, resolvemos dividir o Projeto Temático em quatro linhas de pesquisa, baseadas nos onze temas, descritos no projeto original. As atuais quatro linhas de pesquisa articulam, contemplam e sintetizam as preocupações dos temas relatados anteriormente. Nesse sentido, o projeto passa a estruturar-se nas seguintes linhas de pesquisa:
Em meio a tantos estilos de liderança e das variadas formas de percebê-la, a compreensão advinda da empiria, isto é, das entrevistas que foram realizadas, é que o líder é aquele capaz de expressar ou simbolizar politicamente uma visão de mundo compartilhada com um coletivo, partido ou grupo de indivíduos. Devido à relativa autonomia do campo político e sua atual simbiose com a mídia, o líder político contemporâneo pode ser, ainda, aquele que mobiliza politicamente por causa do capital simbólico adquirido em outras esferas sociais.
Como denominador comum, dentro do projeto, há a percepção de que a liderança política – independente do seu tempo histórico – deve ser vista como construção social. Uma metodologia abrangente, que servisse como base para a análise da constituição das lideranças pesquisadas, foi pensada e debatida com profundidade.
Bibliografia citada
JIMÉNEZ DÍAZ, José Francisco. Enfoque sociológico para el estudio del liderazgo político. Revista Castellano-Manchega de Ciencias Sociales, nº9, 2008, p.189-203.
Marx, Karl, O 18 de brumário de Luís Bonaparte. Tradução e notas Nélio Schneider ; prólogo Herbert Marcuse - São Paulo : Boitempo, 2011.
PRIORE, Mary del. Biografia: quando o indivíduo encontra a história. Rio de Janeiro, Topoi, v.10, n.19, jul-dez, pp.7-16, 2009.
REJAI, Mostafa; PHILLIPS, Kay. Leaders and leadership. An appraisal of theory and research. Westport: Preager Publishers, 1997.
Coordenadora
Vera Lucia Michalany Chaia
Pesquisadores
Carla Montuori Fernandes
Claudio Luis de Camargo Penteado
Cristina Maranhão
Deysi Oliveira Cioccari
Genira Chagas Correia
Joyce Miranda Leão Martins
Luis Eduardo Tavares
Marcelo Burgos Pimentel dos Santos
Mariana Zanata Thibes
Marco Antônio Teixeira
Miguel Wady Chaia
Natasha Bachini Pereira
Paulo Niccoli Ramirez
Pedro Abrahão Lameirinhas Malina
Rafael de Paula Aguiar Araújo
Rafael Balseiro Zin
Rodrigo Estramanho de Almeida
Rosemary Segurado
Tathiana Senne Chicarino
Silvana Gobbi Martinho
Silvana Maria Correa Tótora
Syntia Pereira Alves
Telmo Antonio Dinelli Estevinho